segunda-feira, 18 de abril de 2016

Regresso

Andei uma semana desaparecida, muito por causa, como aqui relatei antes, da inesperada morte da cadela da minha irmã, que era para mim uma sobrinha. Foi-se-me o tempo, a vontade e a inspiração. A Améle, era esse o seu nome, era uma cadela reservada e muito doce e a sua partida teve tanto de inesperado, como de revoltante. Sinto que estive a fazer um luto. Na minha família, os animais são gente e sentimos a sua partida como tal. Ainda estamos todos em choque e a habituar-nos a não a ter.

Posto isto, retomo as minhas anotações e crónicas. Entretanto, no meio deste caos, foi publicado o meu primeiro texto na plataforma feminista Capazes, que muito me encheu de orgulho e que amanhã já partilharei aqui,

Uma boa noite a todos e a mim também, já agora.

quinta-feira, 7 de abril de 2016

Mas afinal como se pratica o feminismo?


Aqui há uns dias estava eu a trocar argumentos com a juíza conselheira Clara Sottomayor, publicamente, na sua página de Facebook, sobre problemas como a violência doméstica e a alienação parental (que a douta conselheira rejeita e eu alerto que existe, de facto), quando a jurista de reconhecido mérito (e merecido) questiona a minha natureza feminista e o meu activismo. Pergunta-me se eu tenho textos publicados que provem que sou de facto uma feminista. E insiste: mostre-me os seus textos.

Fiquei pasma. E fiquei a pensar naquilo. Fiquei a pensar se só serão feministas as mulheres que tenham publicado textos em órgãos de comunicação social ou em páginas de organizações activistas. Se só serão feministas as mulheres que têm a oportunidade de chegar à Assembleia da República, como deputadas, ou pertencerem a um partido, onde têm um palco para amplificar a sua luta (e ainda bem que o têm e o usam). Questionei-me se só serão feministas aquelas que ocupam lugares nos tribunais e podem, assim, explanar e aplicar a luta pela igualdade de géneros nas suas sentenças ou acórdãos. Que podem, dada a sua mediatização, levar a luta até aos jornais ou elaborarem extensos tratados académicos sobre esta luta tão digna que é a igualdade de géneros, a igualdade de direitos e oportunidades e o fim das sociedades patriarcais.

Conclui após alguma reflexão que as mulheres que têm textos publicados sobre a igualdade de género dão um importantíssimo contributo para esta luta, tão importante que é desejável que mais mulheres consigam e se disponham a ter um palco mediático ou académico para o poderem fazer. Um bem haja a todas essas mulheres que dedicam a sua vida profissional ou parte dela a esta luta. Mas depois também concluí que, a par desta forma de luta, existem milhares e milhares de mulheres anónimas ou menos mediáticas que, à sua maneira e com os instrumentos que têm, também fazem um verdadeiro activismo não institucionalizado, praticando os ideais feministas todos os dias, no seu pequeno universo, na sua própria forma de estar na vida. E não são menos feministas pela simples razão de não terem obra publicada.


A minha amiga Gisela, por exemplo, que vive num bairro um pouco degradado e arranja unhas como ninguém (aplica o gelinho como uma arte, é de verem) e que não teve, por razões diversas, oportunidade de ir além do nono ano pratica o feminismo como poucas. Arrisco até dizer que é a maior feminista da sua rua ou até mesmo do seu bairro. Ela não sabe quem foi Sojourner Truth, que tanto fez pelas mulheres no século XIX, ela também nunca ouviu falar de Ana Castro Osório, de Maria Lamas ou de Adelaide Cabete. Mas eu garanto-vos que na vida dela, desde miúda, foi uma activista feminista na sua rua, no seu cabeleireiro, na gestão da sua própria vida.

Foi feminista quando no café lá do bairro dizia às mulheres para não aceitarem ser menorizadas pelos maridos (fazia verdadeiros comícios), foi feminista quando na fábrica onde trabalhou antes de arranjar unhas foi falar com o patrão e, corajosamente, lhe perguntou porque razão ganhava menos que o colega Alberto se fazia trabalho igual, foi feminista quando despachou o marido de casa depois de este ter ousado dar-lhe uma tareia que a levou ao hospital Beatriz Ângelo (mal sabia ela que esta foi uma famosa feminista) para suturar o golpe e depois à esquadra da polícia para apresentar queixa. Foi feminista quando dizia à filha diversas vezes que nunca devia aceitar discriminações, que devia lutar por direitos iguais e combater estigmas. Ou quando ensinava à filha que não havia problema algum em brincar com bolas e carros e ao filho que o gosto dele pelo ballet era tão normal como o do amiguinho da escola pelo futebol.

Tenho muitas dúvidas que a Gisela tenha textos escritos ou obra publicada sobre o feminismo. Acho que, de vez em quando, fazia uns rabiscos num papel (que colava no frigorífico) a avisar o marido que não permitia ser vista como a empregada da casa e que ou ele passava a partilhar tarefas e deixava de ver a casa como obrigação apenas dela ou o caldo podia entornar. Acho que uma vez, estava ela no Porto de férias em casa de uma prima, escreveu uma carta ao marido a explicar-lhe que os tempos mudarem e que não lhe permitia machismos e muito menos violência doméstica porque um casamento era uma parceria para a vida e ambos tinham direitos iguais. A Gisela tem estes rabiscos e esta carta mas eu não sei se a doutora Clara Sottomayor considera que são obra suficiente para fazer dela uma feminista.

Eu acho que ela é a maior feminista da sua rua e tem mudado mentalidades no seu pequeno mundo e no seu microambiente, como poucas. As mulheres lá da rua da Gisela, ou algumas, vá lá, deixaram de se sentir vítimas por serem agredidas pelos maridos, começaram a impor-se e a lutar por respeito e tratamento igual e começaram a vestir-se como gostam sem temerem ser consideradas umas depravadas e levianas. É verdade que muitas das vizinhas pagaram um preço alto e viram o casamento descambar, agora que não assentava numa lógica de poder masculino, mas também houve aquelas que conseguiram obter a compreensão dos companheiros. Foi a nível local, é certo, não teve amplitude nacional, é certo, a Gisela não foi ouvida ou lida por todo o país, é verdade, mas localmente esta esteticista fez a diferença. Na sua vida e na de outras.

E não é localmente, dentro da nossa família, na nossa vida, na educação aos nossos filhos, nos nossos posicionamentos, que todas nós podemos fazer a diferença? Cada uma localmente não ficamos muitas? Não é assim que se pratica o feminismo? Ou será só com textos publicados?

Quanto a mim, bom, sou uma mera jornalista, mulher e mãe. Conheço a história do feminismo, as três vagas que existiram desde o século XIX, estou a par das várias correntes (porque não há um feminismo, há vários), já li bastante sobre as sufragistas e sei quem é Carolina Beatriz Ângelo ou Ana Castro Osório, ou as três Marias, e tenho uns textitos publicados, coisa muito pouca, não será certamente obra de monta, mas sou exactamente como a minha amiga Gisela, aplico os ideias feministas, a luta pela igualdade de géneros desde tenra idade, sempre que opino e me bato contra o poder patriarcal nas sociedades. E, agora, mais importante que tudo, na educação que dou à minha filha.

 

quarta-feira, 6 de abril de 2016

Pedro Arroja está desesperado e a desintegrar-se

Pedro Arroja está desesperado. Representa os resquícios de uma sociedade da idade média que tem vindo, felizmente, a desintegrar-se, mais devagar que o desejável mas sempre a dar passos seguros. E Pedro Arroja anda aflito, a esbracejar, a afundar-se na sua própria mentalidade das cavernas e grita pedidos de ajuda incoerentes e disparatados, sem que alguém, nem os que até alinham com algumas das suas ideias, lhe dê a mão.

Pedro Arroja está desesperado, começa a ver o mundo a andar em frente, as sociedades a elevarem-se e ele, pobre coitado, a ficar isolado numa ilha sem árvores, sem seres vivos, apenas cavernas, areia lamacenta e muitos papões para o atormentarem à noite.

Este senhor aqui em baixo anda perdido, está desorientado com os ganhos da mulher pela igualdade de direitos nas sociedades ocidentais e modernas, pela luta pelo fim das sociedades patriarcais que ano após ano ganha mais adeptos e avança mais uns metros.

 
O rei dos homofóbicos odeia homens homossexuais, odeia mulheres que saem de casa para trabalhar, odeia feministas, odeia mulheres que alcançam sucesso em qualquer área da sua vida, odeia o mundo democrático e livre e, no final de todo este percurso, odeia-se a si próprio. Vive perdido numa sociedade que caminha para a igualdade de géneros, para o respeito pelo próximo, sem olhar a raça e géneros.
 
Depois de ter chamado "esganiçadas" às dirigentes do Bloco de Esquerda por elas serem dirigentes, veio agora mostrar mais um pouco do seu fel cavernoso, escrevendo no seu blogue qualquer coisa como: "A ascensão generalizada de mulheres nas direcções partidárias é um sinal de degenerescência dos partidos". Cada vez que uma mulher chega a um lugar de liderança Pedro Arroja esvai-se em diarreia. Contorce-se em espasmos sofridos e caga-se todo. Desfez-se em diarreia quando Assunção Cristas chegou à liderança do CDS e borrou-se (mentalmente falando) quando Passos escolheu mulheres para a vice-presidência do PSD. Como é que é possível que mulheres cheguem à liderança de organizações políticas? Um lugar natural dos homens. E não aguentou a dor e evacuou de novo, com uma explicação mais ou menos assim: Como os partidos políticos são organizações "sectárias por excelência", descendendo directamente de "seitas protestantes", elevar uma mulher à liderança "é enfraquecer o espírito partidário".
 
Vamos por partes. Arroja até acerta num ponto. Há centenas de anos os partidos nasceram como organizações sectárias, da mesma forma como há centenas de anos as mulheres não tinham direito ao voto, nem sequer a trabalhar fora de casa e em que serem violentadas pelos maridos era visto como normal e aceitável. Não podiam usar calças sem que fossem apelidadas de depravadas e mulheres da vida, não podiam entrar em cafés, não deviam falar de política, não podiam viajar para o estrangeiro sem autorização do seu senhor marido, não podiam ser juízas ou militares. E podia continuar...
 
O que Pedro Arroja -  um economista a quem o Porto Canal dá palco à sua revolta - se esquece é que o mundo mudou, as sociedades mudarem, as tradições mudaram, as leis mudarem, as mentalidades estão a mudar. Como tal, e obviamente, a mudança chegou aos partidos. Claro como a água. E se o "espírito sectário" de que Arroja fala significa que os partidos sejam intolerantes e funcionem como seitas (é o que significa sectário), então, ao dizer que as mulheres, com o seu "espírito comunitário",  vão enfraquecer o sectarismo dos partidos, este economista está sem se aperceber a fazer um elogio ao impacto da subida das mulheres às lideranças. E até merece aplausos. Por tudo isto e muito mais o fim do espírito sectário nas organizações com a liderança das mulheres só pode mesmo ser uma boa notícia.
 
Por isso, mulheres, mulheres que lideram, mulheres que alcançaram a liderança de partidos, mesmo que nos/vos incomode os contantes ataques de Pedro Arrojo, vejam tal diarreia como um rasgado elogio, porque é notável que alguém reconheça que o espírito comunitário das mulheres "enfraquece" o espírito sectário dos homens nos partidos. E pensem: Pedro Arroja está desesperado, a sua alma ficou parada na caverna, o seu espírito vê-se cada vez mais isolado numa ilha lamacenta, escura e pejada de fantasmas. Há que perdoar e tentar ajudar, recomendando uma minuciosa terapia, acompanhada de soro para a desidratação. É que, dado que cada vez são mais as mulheres que chegam a lugares de topo nos partidos, Arroja arrisca-se a uma desintegração por tanta evacuação.
   
 

terça-feira, 5 de abril de 2016

Hoje é que é!

Quantos de nós já não disse esta frase uma montanha de vezes? Hoje é que é! É hoje que vou começar a fazer aqueles exercícios para combater esta 'pneu' dos 40 (e tais), é hoje que vou substituir aquela maldita batata frita por um abacate diário ou por um belo prato de espinafres salteados (e que bons que são).

É hoje, é hoje, é hoje mas nunca é. Ganha sempre o sofá nesta guerra titânica ou ganha sempre aquela-ida-à-esplanada que está mesmo, mesmo a chamar por nós. E o hoje lá passa para amanhã. "Amanhã é um bom dia", sussurra o Tico para o Teco. "Amanhã, tens uma agenda mais livre, não há almoço da miúda, o trabalho é mais ligeiro, não há café com amigas ou situações inesperadas que arrastam para depois 10 das 15 tarefas que tens planificadas na agenda", insiste o Tico, para convencer o Teco.

Já chega! É mesmo amanhã. Amanhã, 'bora lá acordar bem cedinho e fazer os exercícios que se podem ver aqui em baixo.



 
Isto nem me parece nada difícil. Estica uma perna para trás, agacha o rabo, flexiona as pernas e estica a barriga. E já está. Garantem os profissionais destas coisas que se vai o 'pneu' dos 40 (e tais) e que ficamos uma verdadeira Top Model (sim, sim...). Não vai num ápice, de certeza, que eu aqui não sou tonta ao pensar que isto é tudo fácil e como a 'bimby'. Ah...mas vai, tem mesmo de ir.
 
E é já amanhã que começo. Eu já tinha dito que seria a 1 de Abril mas uma fatalidade que passou como um furacão na família deixou-me sem tempo (e disposição). Depois a miúda ficou doentinha e lá se foram os planos (e as promessas).  
 
Pronto. É amanhã.

Roupas e coisas assim

O look de hoje :-)

sábado, 2 de abril de 2016

Da maldade humana

Não sou uma pessoa de rodeios ou de andar em grandes voltas para chegar ao ponto. Não sou uma pessoa de escrita salpicada de muitos floreados (bem gostava de ter esta arte) para passar uma mensagem. Talvez defeito ou vantagem, sei lá, disto de ser jornalista. Por isso, feita esta introdução (ou será rodeio?) vou ao ponto.

Hoje foi um dia triste. À hora que escrevo - sem dormir há mais de 36 horas - tenho de dizer que ontem foi um dia triste. Um dia marcado pela negligência, falta de respeito e maldade. Cada uma das situações me parecem tão surreais que só acredito nelas porque as vivi.

A cadela da minha irmã morreu. Foi fazer uma simples lavagem aos dentes (com anestesia geral), um processo comum nos cães, e morreu horas depois do Hospital e veterinária terem desvalorizado e ignorado todos os alertas da dona sobre o estado de sofrimento em que a cadela se encontrava, o que para mim é uma grosseira negligência. Morreu, horas depois, já não foram a tempo quando de madrugada voltámos em desespero. Mas vou poupar os detalhes. Esta foi a situação que nos roubou um membro da família num ápice e sem esperarmos (e ver a dor do meu padrasto - que a adoptou como filha - é tão doloroso quanto a ida dela). A falta de respeito está em tudo o que se seguiu. Um muro de silêncio na clínica tão tipicamente português para tentar encobrir o que se passou. Ainda agora, não sabemos o que se passou. Ninguém apareceu, ninguém deu a cara, apesar dos insistentes pedidos da minha irmã para ter uma explicação. Isto será tratado em tribunal.

A história de maldade é a que se segue. Acabados de chegar da terra onde vivem, em desespero porque para todos os efeitos era uma filha/neta que tinha partido (para a minha família os animais são vistos e tratados assim), a minha mãe e o meu padrasto abraçaram-se à minha irmã num choro convulsivo quando ela se encontrava, mais desfalecida que desperta, sentada no primeiro de três degraus que dão acesso ao prédio contíguo à clínica. Foi ali que nos sentámos as duas desde as 6 da manhã para...sei lá...para pensar e viver o momento. Ela estava no degrau rasteiro ao passeio. Quando estamos a viver o reencontro (e todos sabem o despertar de emoções que se gera quando a família se vê pela primeira vez numa morte) chega uma senhora na casa dos 50 anos, hirta, expressão opaca, gélida. Desumana, até. Que dispara:

- Vocês são daqui? São deste prédio?

Como era eu a mais calma no meio daquela dor levantei-me e dirigi-me à senhora convicta que, enfim, era alguma responsável da clínica. Digo-lhe:

- Não, não, somos a família que acabou de saber que a sua cadelinha morreu e...

- Não podem estar aí sentadas. Isso é propriedade privada - atirou a dita, interrompendo-me, de cara gélida, desumana, toda ela hirta, arrogante, sem um pingo de alteração na expressão facial pelo que eu acabara de revelar.

Apanhada de surpresa, por um segundo achei que ela não me tinha ouvido bem. Reitero a notícia da morte, enquanto o meu padrasto, ausente, distante, continuava inconsolável.

- Isso não é uma sala de espera - atira ela, de novo, mais hirta ainda, mais desumana ainda, mais fria ainda, amarga. E continua: vou chamar a polícia.

Foi aqui que me alterei, depois de horas sem dormir, sem comer, a ver a minha irmã sofrer. Percebi na hora que aquela mulher (não vou trata-la por senhora) era simplesmente e profundamente má. Respondo-lhe, então, já fria também, que não só podia chamar a polícia, como seria eu própria a fazê-lo. E avancei para ela, exigindo-lhe que me desse o nome. Não deu. Acobardou-se e entrou de rompante no prédio, cuja porta de entrada fica a uns dois ou três metros do degrau rasteiro ao passeio onde nos encontrávamos.

Nem 10 minutos depois tínhamos junto a nós dois agentes da PSP incrédulos e chocados por repararem que tinham sido chamados a uma ocorrência que mais não era que um casal de mais de 60 anos e uma jovem a chorarem a morte daquele querido membro da família, sentados num pequeno degrau colado à porta da clínica veterinária. Tal era a incredulidade dos agentes que só não subiram ao prédio para inquirirem aquele ser humano (será?) tão ignóbil porque a dita, quando fez a denúncia, nem se identificou. Denunciou "confusão" à porta do seu prédio. A confusão era uma família destroçada num degrau do seu prédio. Os dois agentes da PSP deram-nos os sentimentos, autorizaram-nos a chorar no degrau e, antes de abalarem para, quem sabe, serviços sérios à comunidade, ainda nos disseram que ligássemos para a esquadra caso a mulher (recuso-me a chamá-la de senhora) voltasse a dizer-nos que, naquela situação, um degrau é propriedade privada.

E, além de toda a dor, tivemos de levar no dia de ontem com a mais surreal, feia e rasteira dimensão da maldade humana. Não consigo pensar em ilustração melhor para tal acto gélido e arrogante que a imagem de Jesus Cristo, para que a alma desta mulher possa quem sabe um dia ganhar alguma paz e receber algum amor.

Assusta-me tanto o rumo da humanidade. A maldade que está a tomar conta de tantas pessoas.

     

sexta-feira, 1 de abril de 2016

Mulheres ao leme

Tenho um especial carinho por esta foto. Marca a reunião da família depois de demasiado tempo de uma separação imposta pelas vidas agitadas e distantes geograficamente de cada uma de nós. Marca o dia em que fizemos uma pessoa muito feliz e rumámos todas de surpresa lá para os lados do Alentejo para presentear mais uma primavera da matriarca. Nestes longos anos em que ficámos apenas as quatro após a partida do meu grande-Homem, este foi o dia D desta família de mulheres.
Há um antes e há um depois. Andava por aqui a arrumar o meu álbum digital e encontrei-a. Partilho-a por isso mesmo, porque marca um dia especial em família e, na verdade, a família, com todos os problemas que possa ter, encerrar ou sofrer, é de facto o grande pilar que temos nesta passagem. Partilho-a para homenagear as famílias. A minha também. Uma família de mulheres de garra, não fossemos todas ribatejanas. Já Miguel Esteves Cardoso escrevia numa das suas crónicas:
"O mal da família é a facilidade, é pensar que aquele amor já é um assunto arrumado".

Um beco com saída estreita

 
Em jeito de crónica (1)    Na pele de jornalista    
 
Arranca hoje, em Espinho, o 36º Congresso da família social-democrata. Passos, obviamente, já eleito e sem adversários, vai lá estar para subir ao palco, discursar, e sair consagrado. Consagrado, mas pouco...
O líder do PSD, que até há pouco era o primeiro-ministro do rigor, da austeridade e do resgate e que viu Costa ultrapassa-lo pela esquerda e chegar a São Bento, está numa espécie de beco com pouca saída.
 
No fim do beco há uma passagem tão estreita que só um gato, e dos pequenos, é que por lá passa. Para conseguir furar, o líder dos laranjas vai ter de escavar muito ou usar de toda a sua elasticidade para escalar o muro. Mas terá de suar. Terá de mudar as técnicas de escalada e de jogar-se numa aventura ousada. E ser rápido, muito rápido, porque atrás dele, a virar a esquina e munidos de fatos de homem-aranha, estão outros laranjinhas em passo discreto.
 
Mas Passos não está a conseguir usar novas técnicas de escalada, nem sequer está a escavar o muro. Ficou parado a olhar o obstáculo, repetindo o discurso dos tempos do resgate. Metamorfose não é com ele, o que é de registar pela coerência que tal incapacidade encerra. Mas o partido pede, grita, esbraceja por uma lufada. Só que parece não estar no ADN de Passos tal mutação. Tentou inovar  com a bandeira da social-democracia (que já nem os social-democratas sabem bem o que é), numa derradeira esperança de convencer o muro a jogar-se aos seus pés. Mas o muro está desconfiado. E o tempo corre. E o partido sabe que o tempo até pode correr a seu favor, ou não, que isto da gerigonça até pode ganhar velocidade, mesmo aos trambolhões.
 
E lá vão eles todos para Espinho, resignados ao que têm, resignados a Passos Coelho, às qualidades que todos admitem que tem que e até admiram mas que, questionam, podem não chegar para galgar o beco. Irá Passos surpreender no Congresso? Poucos acreditam. E vão todos ou quase todos lançar olhares discretos para os laranjas que por ali circulam a magicar para os seus botões qual destes pode ser o homem ou a mulher que um dia conseguirá emergir da base e subir até ao palacete onde se senta o chefe do Governo. Será Passos?